Sacramentos
O que é a Unção dos Enfermos?

Na presença de um doente, por vezes pensa-se: “chamemos o sacerdote para que venha”; “Não, dá azar, não o chamemos”, ou então, “o doente assusta-se”. Por que se pensa assim? Porque um pouco há a ideia de que depois do sacerdote venha à agência funerária. E isto não é verdade. O sacerdote vem para ajudar o doente ou o idoso; por isto é tão importante a visita dos sacerdotes aos doentes. É preciso chamar o sacerdote para junto do doente e dizer: “venha, dê-lhe a unção, abençoe-o”. É o próprio Jesus que chega para aliviar o doente, para lhe dar força, para lhe dar esperança, para o ajudar e também para lhe perdoar os pecados pois, é a oração feita com fé que salvará o doente, “Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (Tg 5,14-15)
Um dos traços mais característicos de Jesus no Evangelho é que curava os doentes, dedicava-lhes o seu tempo, animava-os.
Este ministério curativo de Jesus tinha um sentido messiânico: era símbolo e sacramento do poder libertador integral que tinha como Messias. Assumindo as nossas debilidades em si mesmo – “(…) Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores” (Mt 8,17) – curava os males corporais e comunicava o perdão e a reconciliação com Deus.
A comunidade cristã recebeu o encargo de continuar com este ministério: “curai os doentes (…) e dizei-lhes: ‘O Reino de Deus já está próximo de vós’” (Lc 10,9), e com efeito “Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos” (Mc 6,12-13).
Durante dois mil anos, a Igreja continuou a cuidar dos doentes em todas as dimensões, e também celebrando com eles este sacramento da Unção, dando-lhes a força e a graça na sua debilidade.
Em séculos sucessivos, sobretudo a partir do século IX, deslocou-se o sentido deste sacramento. Em vez de ser a graça curativa a aliviadora para os doentes, começou a considerar-se como sacramento dos moribundos, e passou a chamar-se “Extrema-Unção”. O Concílio Vaticano II quis que se voltasse a chamar “Unção dos Enfermos” com mais propriedade (cf. SC 73), e determinou uma reflexão e uma reforma na celebração do sacramento (cf. SC 74-75). Seguindo as orientações do Concílio Vaticano II, apareceu o novo Ritual em 1972, precedido da Constituição Apostólica de Paulo VI Sacram Unctionem Infirmorum, e dos Preliminares do Ritual da Unção e Pastoral dos Doentes, no final desse ano (cf. EDREL 972-1018). A Constituição Apostólica de Paulo VI Sacram Unctionem infirmorum trouxe maior elasticidade na disciplina até então vigente do sacramento. O sacramento da Unção dos enfermos poderá ser administrado mais de uma vez ao mesmo enfermo que já o tenha recebido, não somente se ele recai na doença, mas se o perigo que ele corre se torna mais grave.
Não se deve considerar a unção como um tabu, porque é sempre bom saber que no momento da dor e da doença não estamos sós.
Com efeito, o sacerdote e quantos estão presentes durante a Unção dos enfermos representam toda a comunidade cristã que, como um único corpo se estreita em volta de quem sofre e dos familiares, alimentando neles a fé e a esperança, e apoiando-os com a oração e com o calor fraterno. Mas o maior conforto provém do facto de que quem está presente no Sacramento é o próprio Senhor Jesus, que nos guia pela mão, nos acaricia como fazia com os doentes e nos recorda que já lhe pertencemos e que nada — nem sequer o mal nem a morte — jamais nos poderá separar d’Ele.
A Unção é o sacramento específico para os cristãos doentes. Os textos da celebração apresentam-no como o encontro sacramental com Cristo médico e pastor, que está próximo e continua a curar, aliviando e libertando do mal, “Pela santa Unção dos enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a Igreja encomenda os doentes ao Senhor padecente e glorificado para que os salve (cfr. Tg 5, 14-16); mais ainda, exorta-os a que, associando-se livremente à Paixão e morte de Cristo (cfr. Rom. 8, 17; Cl 1, 24; 2 Tim. 11,12; 1 Pe 4 ,13), concorram para o bem do Povo de Deus” (Constituição Dogmática, Lumen Gentium, 11).


Este sacramento não é só para quem se encontra nos últimos momentos da sua vida, mas também para todo o cristão que, “[comece] por doença ou por velhice, a estar em perigo de morte” (Constituição Conciliar, Sacrosanctum Concilium 73), ou como diz o Ritual “aos fiéis gravemente doentes” (n.º 8), incluídos os anciãos “quer em razão da própria enfermidade, quer em razão da idade avançada” (n.º 8). O ministro da Unção é só o sacerdote, embora na história dos primeiros séculos também fosse administrada pelos leigos.
Os efeitos do sacramento descrevem-nos bem os próprios textos. Enquanto o unge, o ministro diz ao doente: “Por esta Santa Unção e pela sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos.” O efeito identifica-se com a “graça do Espírito”: “Cristo, Redentor do mundo, nós Vos pedimos: curai pela graça do Espírito Santo a fraqueza deste doente, sarai (…) perdoai (…) tirai-lhe todas as dores (…) restituí-lhe a saúde interior e exterior (…).” (n.º 77).
Uma novidade do Ritual pós-conciliar foi a possibilidade da celebração colectiva da Unção dos Doentes (nn. 83-92), por exemplo, num dos domingos da Páscoa.